O "medo" do Rosa.
- Lucila Moreira Silveira
- 24 de mai. de 2021
- 2 min de leitura

Até meus 16, 17 anos, morria de medo de ler João Guimarães Rosa.
(Hoje em dia, morro de medo de ler Imannuel Kant, mas isso é outra história).
Aquele medo do Rosa resultava, é lógico, da minha perfeita ignorância de sua linguagem e literatura.
Não culpo as escolas, muito menos o pessoal que compunha as provas de vestibular do meu tempo (e só de escrever "meu tempo", já fico me sentindo uma macróbia.)
Mas isso não tem mais importância.
Este post não tem intenção de contar fatos de vida do Rosa (somos íntimos). Quero, aqui, tentar explicar o efeito que a sua leitura teve sobre mim. E não foi pequeno, não.
Eu era espectadora assídua da TV Cultura, sim, a TV do Canal 5 aqui no Ceará. E assistia sempre aos "Grandes Cursos Cultura na TV". E um dia, a aula foi ministrada pelo Professor de Literatura José Miguel Wisnik. E foi esse rapaz que descortinou a leitura de Guimarães Rosa para mim,


E, na realidade, essa escrita jamais deveria ser temida.
Parece que o modo extremamente "brasileiro" com que o Rosa escreveu, tecendo uma divertida, delicada e apaixonada teia de surpresas linguisticas e de linguagem, amedrontou muito não só as pessoas de nossa geração, mas até críticos literários que receberam, para a crítica, os primeiros livros dele.
Quanto a mim, continuo lendo e relendo seus livros e seus contos
O que faz o Rosa é uma prosa. É uma velha maneira de prosear. A maneira de prosear do Sertão.
Ler Guimarães Rosa hoje em dia, seus contos, seu grande romance, estarrece-nos. Não que novas vozes literárias não estejam galgando a íngreme escalada rumo à publicação. Mas Rosa é um tesouro ao alcance da mão.
Leiam, leiam o escritor que foi fulminado por um enfarto poucos dias depois de tomar posse na Academia Brasileira de Letras.
Leiam. Duvido que alguém não saia profundamente comovido, e que até mesmo assomem lágrimas aos olhos, depois de ler "As Margens da Alegria" ou "Os Cimos", sobre as emoções e sensações de um menino que testemunha a construção de Brasília.

Ave, Palavra! Ave, Guimarães Rosa.
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