COMO CONHECI ELIS, ADONIRAN, e dei "Um Tiro ao Álvaro".
- Lucila Moreira Silveira
- 2 de jun. de 2021
- 2 min de leitura
Atualizado: 13 de jun. de 2021
"De tanto levar
frechada do teu olhar,
Meu peito até
Parece sabe o quê,
táuba de tiro ao álvaro..."
Imediatamente ergui os olhos do sofrido caderno e perguntei ao meu herói:
"Ô pai, por que que essa mulher tá cantando errado desse jeito?"
Meu herói, que de tudo sabia (ao menos, naquela idade, estava convencida disto; e talvez ainda esteja), respondeu:
"Não, minha filha. Ela está cantando como as pessoas simples, que não foram à escola. É uma paródia do jeito com que eles falam.".
Pronto. Eu, agora, estava com três problemas na cabeça: o dever de casa, a palavra "paródia" e a música "Tiro ao Álvaro".
O dever era fácil de resolver. Sob a estrita orientação de minha heroína, eu pertencia à turma do gargarejo, no colégio. A palavra "paródia" clamava pelo exercício de levantar um dicionário, folheá-lo e descobrir seu significado (que às vezes "dessignificavam" mais do que significavam).
Restava a música.
E era tão linda, para os meus ouvidos. Tudo deu certo: a voz de Elis, a letra muuuito redonda, os arranjos, e o Adoniran.
Não conheci meus avôs paternos e maternos, e Adoniran acabou de certa forma, com aquele seu jeitão de vovô bacana, fez com que eu quisesse conhecer tudo dele.
(Houve uma época aqui em Fortaleza, em que eu era a "alegria" dos vendedores de discos; depois, a "alegria" dos vendedores de cd's. Depois veio a fase da "alegria" dos donos de bancas de revista e, por fim, dos vendedores de livros.)
Época muito feliz, aquela. Tento não manter qualquer tipo de nostalgia, mas é bom lembrar dos dias despreocupados.
Ah! Quase esquecia um detalhe: já conhecia "aquela mulher" de um dos maiores e melhores discos que já ouvi. "Águas de Março", "fechando o verão, é promessa de vida no meu coração". Quem nasceu em março, não tem o direito de ignorar essa música.
E nem Elis. Nem Tom. Nem Adoniran.

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